Do Linux para o Mac, e de volta ao Linux um mês depois

O que faz um usuário de Linux que migrou para o Mac tomar o caminho de volta?

Participando há mais de 15 anos da comunidade Linux e há poucos anos no mundo Apple, esta é uma situação que já vi algumas vezes: usuários que passaram de um para o outro, não gostaram e retornaram.

De vez em quando algum deles compartilha brevemente sua opinião sobre os efeitos da mudança, que é algo que eu não poderia fazer com a mesma propriedade, pois não deixei de usar o Linux.

A pergunta acima comporta muitas respostas, mas a leitora Layane me enviou o link para um artigo publicado anteontem cujo autor, Dan Collins-Puro – que é usuário Linux de longa data, desenvolvedor Ruby e administrador de sistemas – recebeu de seu trabalho um MacBook para desenvolver suas atividades, usou por um mês e acabou preferindo retornar ao Linux.

Logo de início ele avisa que aceitou por não querer ser desagradável e porque percebe que há razões pelas quais tanta gente inteligente o usa – mas concluiu que para ele o OS X não serve, e disse por que.

Para mim, que uso ambos os sistemas, as razões apresentadas para migrações entre eles são interessantes e provocam reflexão sobre os pontos fortes e fracos de cada um, e desta vez não é diferente, especialmente pela oportunidade de colocar em contraste com o relato de ontem, de um desenvolvedor que migrou do Linux para o Mac e após 1 ano relata como foi passar a usá-lo.

Como de hábito, não vou traduzir (recomendo que você leia a íntegra do original para conhecer todos os detalhes), mas apontarei aspectos que me atraíram a atenção.

Os pontos a favor do Mac

O Dan começou listando 8 aspectos que lhe agradaram, incluindo a nitidez do texto na tela Retina (para ele desperdiçados, pois trabalha em monitor externo na maior parte do tempo), a comunidade de desenvolvedores e a consistência do copiar-e-colar entre os aplicativos.

Assim como o autor do relato de ontem, ele gosta do homebrew para gerenciar pacotes. Ele também informa que os softwares open source que usa regularmente rodam bem no OS X: ruby, rvm, postgres, mongodb, redis, vim, bash, etc., e não teve grande incomodação em configurar um ambiente de desenvolvimento.

Entre os pontos positivos ele também gostou da forma como o scroll de páginas funciona no Mac, e pretende configurar de forma similar no Linux no futuro.

Os pontos contra o Mac

Na opinião de Dan, há 11 itens de destaque que o inclinaram a voltar para o Linux após 1 mês de experiência, e que vou destacar, começando pela maior disponibilidade de escolhas de hardware: ele avalia positivamente os equipamentos da Apple, mas prefere poder definir seu ambiente exatamente como quiser – embora entenda que há quem não prefira passar pelo processo. Detalhes como a saudade de clicar com o botão do meio do mouse são mencionados.

Outro aspecto que o desagrada é que várias opções populares ou desejáveis de configuração estão disponíveis por meio de utilitários de terceiros pelos quais há necessidade de pagar ou instalar algo por fora da App Store, que ele considera um retrocesso em relação à sua experiência com o gerenciador de pacotes apt.

Ele também não gostou de como o OS X gerencia as janelas, tendo atalhos de teclado diferentes para as operações de alternar entre aplicações e de alternar entre várias janelas de uma aplicação, tendo a possibilidade de manter aplicativos abertos sem uma janela aberta correspondente, e sem um correspondente direto para a operação de maximizar uma janela.

Assim como no relato de ontem, as combinações de teclas baseadas em Option e ⌘, e a inconsistência entre elas que ele percebia, são mencionadas como um ponto a favor do Linux.

Um ponto em que ele e eu estamos de pleno acordo é sobre não compartilhar do interesse da Apple por 2 recursos: Launchpad e dashboard. Até consigo aproveitá-las, mas estão bem longe das minhas preferências.

Ele acrescenta que não gosta da postura da Apple no mercado, da forma como trata a concorrência, e do frequentemente "campo de distorção de realidade".

Em conclusão

Entre os aspectos que ele listou como sendo responsáveis pelo retorno ao Linux, dois pontos me chamaram especialmente a atenção.

O primeiro é de que ele se descreve como alguém que conhece bem o Linux, gosta de aprender mais sobre ele, gosta de trocar de ambiente gráfico de vez em quando, ama o /proc, gosta de mexer e não se incomoda de consertar probleminhas ocasionais.

O segundo é que ele identifica que a comunidade de desenvolvimento usando Linux é quase tão grande (se não maior) do que a que usa Mac, e repleta de talento. Na opinião dele, ambas são complementares.

Além da interessante lista de pontos negativos e positivos percebidos pelo usuário em questão, o artigo do Dan me chamou a atenção por demonstrar algo que eu acredito: que a escolha de um ambiente operacional é motivada pelas expectativas e demandas de cada usuário.

Há quem passe de um pro outro, de outro pra um, que use ambos (meu caso) ou que experimente o outro e retorne ao que usava antes (caso do Dan), cada um com seus interesses e motivos, que fazem sentido para si, e para os outros podem ser objeto de interesse para conhecer como os diferenciais se apresentam na prática.

Não é porque eu discordo de algumas observações do relato que eu as considero erradas: são as impressões do autor, e o que cabe a ele é descrever o que percebeu e viveu, mesmo nos casos em que os problemas tinham solução.

Além das discordâncias, há vários pontos de contato também – só que ele se deu ao trabalho de relatar, e assim o ponto de vista dele pode servir para que você mapeie aspectos que gostaria de verificar antes de experimentar migração similar, assim como ocorreu no relato de ontem, do desenvolvedor que migrou para o Mac e gostou.

Para fechar o texto, quero destacar um aspecto já mencionado: logo no início do seu texto ele comenta que aceitou experimentar o Mac recebido da empresa por não querer ser desagradável e porque percebe que há razões pelas quais tanta gente inteligente o usa – mas concluiu que para ele o OS X não serve, e o que vimos acima é a lista de razões, que valem para ele – e talvez sejam interessantes para você.

Na conclusão, Dan Collins-Puro elabora o exposto acima: ele está satisfeito por ter tido a chance de conviver com o OS X, não sente que a sua produtividade foi atrapalhada significantemente por ele, e agora entende melhor a razão de outros desenvolvedores gostarem dele. Mas para ele não serve.

Veja o texto completo em Switching Back to Linux From Osx, de Dan Collis-Puro.

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