TV da Apple: você já assiste TV com outra tela na mão?
Os telespectadores estão mudando a forma como se pratica o ato de assistir TV, à revelia das emissoras – e cedo ou tarde alguém vai oferecer um pacote que aproveite melhor todo o potencial dos novos recursos.
Em junho, enquanto a imprensa se agitava com o rumor (que não se confirmou) de que a TV da Apple seria anunciada nos dias seguintes, eu compartilhei minha opinião de que a tal iTV já chegou, embora talvez ainda vá ser complementada por algum aparelho que a aproxime mais da sala de estar, e por métodos que dêem uma cara unificada ao conjunto de práticas que a Apple já vem nos oferecendo.
Sob o meu ponto de vista, onde há fumaça há fogo, e já podemos ver a fumaça da futura iTV em elementos como o suporte a espelhamento de vídeo dos Macs (com Mountain Lion) e dual screen dos iPads para a TV da sala por meio da caixinha Apple TV, a programação de vídeo que pode ser adquirida no iTunes (filmes aqui no Brasil, e também seriados nos EUA), e até a geração de conteúdo próprio, como o iTunes Festival que está acontecendo todos os dias deste mês.
O dual screen (transmitir para a TV uma imagem enquanto mantém outra diferente na sua própria tela), já disponível no iPad, é um ponto que considero especialmente importante, pois oferece uma forma consolidada (e mediada, abrindo assim possibilidade de lucro para quem mediar) de fazer algo que muitos de nós já improvisamos ou nos habituamos: ter no computador ou no iPad uma informação que amplia o interesse do que está passando na TV naquele momento, seja por complementar, seja por oferecer uma alternativa.
Os barões dos bondes
Ao contrário dos barões dos bondes que se recusavam a admitir que os automóveis fariam sucesso, as atuais emissoras, programadoras e distribuidoras já vêm tentando tirar várias casquinhas das novas possibilidades de maneiras de assistir sua programação, mas sem abraçá-las como um todo.
Elas fazem isso oferecendo apps que ampliam o potencial comercial de sua programação (fazendo com que o espectador interaja mesmo quando o programa não está passando, e ampliando a interação na hora em que ele está), tentando induzir a comentários em redes sociais mencionando de forma ordenada (com hashtags) os seus programas, etc.
Algumas das tentativas deles até são bem interessantes para agregar valor à experiência de fazer as coisas do jeito atual: o app de programação da Net me ajuda a escolher programas e até a agendar gravações do que não posso assistir na hora, e os apps do Telecine e da HBO permitem assistir aos filmes na telinha do iPad/iPhone mesmo fora de casa.
Migalhas podem adiar a insatisfação plena, mas não resolvem
Isso que os barões dos bondes oferecem hoje não se aproxima do que desejo como consumidor, que é me libertar do conceito de horário nobre, da necessidade de pagar por canais e programas que não assisto, e mesmo assim poder assistir aos programas que quero ver, com a qualidade de imagem e áudio disponíveis, na tela grande, e sem ter de mentir nem enganar ninguém pra isso.
Nos bastidores sabemos que há bastante gente se agitando para tornar mais próximas as atividades de produzir, distribuir e complementar o conteúdo da TV.
Também sabemos que isso é profundamente contrário à continuidade do sucesso do atual modelo de negócios baseado em restringir datas e horários de exibição dos programas mais desejados, e conduzir o espectador comercial que deseja assisti-los a pagar também por outros canais e programas que ele não tem interesse em consumir.
E a Apple com isso?
Minha conclusão não é nova: a presença da Apple no mercado televisivo possivelmente vai aumentar mas hoje já existe (e não apenas com o seu Apple TV): o iPad, iPhone e iPod Touch já fazem parte do hábito de "assistir TV" de muitos telespectadores, mesmo sem precisar de um televisor novo com a marca da maçã, ou de conectar algo dela ao seu televisor existente.
Enquanto não chega algum produto da Apple que integre à programação dos estúdios que toparem ser seus parceiros tudo o que foi mencionado acima, e mais a Siri, o FaceTime e seus companheiros, vamos vivendo uma transição lenta feita (ao menos em parte) à revelia de quem hoje se esforça por engessar os modelos de distribuição de conteúdo.
E assim chegamos ao ponto que me fez começar a escrever esta longa opinião: o relato na Wired que é mais um exemplo de uma opção que é mais fácil hoje aos telespectadores dos EUA do que aos brasileiros, mas vem se tornando realidade para um número crescente de pessoas: cancelar a TV a cabo e continuar assistindo à programação de TV desejada, por meio das opções oferecidas (em grande parte legalmente) via Internet.
Não é tão fácil, nem tão conveniente, nem tem as mesmas opções quanto à programação. Mas já não é impossível e muita gente quer (e topa pagar). Falta quem ofereça uma solução melhor, e cedo ou tarde ela virá.
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