Está chegando: a Era Pós-TV vem aí, e tomara que se apresse

Youtube e Amazon ganharam prêmios Emmy, a Netflix foi indicada para nada menos que 14 deles, já há seriados de sucesso passando primeiro online, e o número de espectadores que assistem a TV tradicional com outra tela em suas mãos ou colo só aumenta. E eu quero mais.

Eu desejo a chegada rápida de uma era Pós-TV que remova os vícios do atual modelo derivado da época em que poucas redes e emissoras que ocupavam os canais VHF (lembra da época do seletor de 7 ou 13 canais?) eram o centralizador necessário e assim controlavam tudo o que podia chegar das produtoras ao espectador.

Em muitas comunidades e mercados a TV atual atende bem e vai continuar atendendo, mas esse não deve ser o caso das fatias do público que mais interessam proporcionalmente ao mercado.

Expressões como Pós-PC e Pós-TV causam rejeição de quem as entende como sendo um indicativo de extinção de determinada tecnologia, quando na prática são usadas como a marca do fim da dominância daquela tecnologia para realizar as tarefas pelas quais se popularizaram.

Hoje os meios ilegais de distribuição de conteúdo, e algumas tímidas e limitadas tentativas legais (como o app da Net para iPad conjugado ao gravador digital deles) também, resolvem uma série de limitações artificiais impostas pelos proprietários dos meios de distribuição, e continuarão resolvendo enquanto o próprio mercado não se mexer.

Mas o futuro vai chegar e, em particular, eu desejo que a Era Pós-TV me permita chegar o mais próximo possível do seguinte cenário, hoje só disponível na íntegra via meios alternativos:

  • O fim dos horários determinados: depois que um determinado conteúdo1 tiver sua estreia, poder começar a vê-lo no momento que eu desejar, durante o período em que ele ficar disponível. O telejornal pode ficar disponível até o dia seguinte, o episódio do seriado pode ficar até a semana que vem, etc.
  • O fim dos pacotes de canais: se eu quero ter a HBO2, não deveria precisar pagar também por um punhado de outros canais que eu não quero assistir, e indiretamente pela produção do conteúdo que eles exibem.
  • Legendas e áudio nos idiomas que eu desejar: os melhores canais brasileiros de TV paga hoje fazem malabarismos para atender tanto a quem prefere dublado como a quem gosta de legendado3, mas disponibilizar múltiplas trilhas de áudio e de legendas, nos vários idiomas para os quais os conteúdos já foram traduzidos, é um problema que a tecnologia já resolveu faz tempo.
  • Nada de atrasos artificiais:Demora entre o lançamento no país de origem e o lançamento no restante do mundo, quando é causada pela necessidade de traduzir, é indesejável, mas explicável. Mas atrasos intencionais devido a estratégias de distribuidores que são monopolistas do conteúdo são abuso da posição que ocupam.
  • Esquecer as restrições de dispositivos: Nada de depender de uma única caixinha decodificadora na sala de estar de casa. Se eu tenho conectividade e posso comprovar minha identidade, por que não poderia ter acesso ao conteúdo que desejo contratar?
  • Intervalo comercial só se eu quiser: Se eu quiser pagar a mais e deixar de ter intervalos no conteúdo que eu quiser assistir4, por que não?

Em muitas casas de jovens adultos não existe mais o tradicional aparelho de TV ou, se existe, serve como monitor para conteúdo que chega sem ser por uma antena ou por um sintonizador de TV a cabo: Apple TV, XBox e vários outros aparelhos competem com o tradicional notebook para ser o dispositivo que tem acesso às telas e às carteiras dessa fatia crescente da população, os chamados cord cutters.

Cresce o número de pessoas que acompanham suas notícias, esportes e seriados sem ter uma antena, nem uma assinatura de TV a cabo

A demanda e as empresas vão correndo por fora e encontrando seus próprios meios de prover interatividade e de não mais depender da oferta limitada de canais, até mesmo aqui no Brasil e enquanto os órgãos oficiais brasileiros mostram todo seu potencial de amadorismo com a falta de pressa na adoção do padrão brasileiro que foi tornado necessário (por eles mesmos) para haver interatividade na TV Digital5, bem como com as sucessivas mudanças de calendário da transição definitiva da transmissão analógica para a transmissão digital, que agora deve se completar só em 2018.

☞ Leia também: TV da Apple: você já assiste TV com outra tela na mão?

Enquanto analistas e concorrentes ficam especulando e aguardando a chegada de uma "TV da Apple", a própria Apple (e a Microsoft, e o Google, e outros), ao mesmo tempo cooperando e competindo com serviços como Netflix, Youtube e tantos outros já vêm ganhando essa valiosa fatia, e ajudando a deslocar os olhos dos telespectadores para telas que transmitem os mesmos conteúdos em outros formatos, bem como novos conteúdos bidirecionais, interativos e mais.

Eu quero que eles acelerem. E você, o que acha?

 
  1.  Seja um filme, capítulo, episódio, documentário, etc.

  2.  Na verdade eu não quero a HBO, foi só um exemplo, calma

  3.  Isso quando não resolvem ofertar só o mínimo múltiplo comum, que geralmente é o dublado

  4.  No qual o merchandising está cada vez mais presente...

  5.  A obrigatoriedade da inclusão em TVs e outros aparelhos do Ginga, padrão nacional de middleware para a interatividade da TV Digital, se arrasta desde a década passada e ainda não pegou

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