Reflexão de final de semana: a que conclusões podemos chegar somando a ausência de grande vantagem imediata nos inéditos 64 bits da CPU do iPhone 5S, somados à nova API de joysticks, ao novo coprocessador de detecção de movimentos e outros fatores aparentemente isolados?

A Apple não é de escolher mal suas palavras, e frequentemente recorre ao expediente de lançar uma ideia no ar e só futuramente esclarecer qual era o sentido. Será que o lema "forward thinking" adotado para o Iphone 5S está nessa categoria?

Na apresentação do iPhone 5S, na terça, ele foi descrito como "forward thinking", que na tradução oficial no site brasileiro virou "pense além". Os significados usuais da expressão incluem "progressista" (no sentido oposto a "retrógrado"), ou "capaz de olhar além do agora, estabelecendo estratégias para cenários futuros".

Copo meio vazio

Pode ser mero recado no estilo "não desistam de nós, não veio agora mas no futuro ainda vamos lançar produtos com características que vocês desejem". Isso também ajuda a explicar por que a ênfase em detalhes da arquitetura do hardware, algo que nem sempre ocorre (mas também não é inédito).

Mas também pode ser – e essa hipótese vem do CannyVision – o prenúncio de que o iPhone 5S vai se integrar a algum outro produto ou contexto que ainda está por vir, e que no momento eles estão lançando só os requisitos pra que isso possa ocorrer.

Para ele, a peça-chave do quebra-cabeças é o novo processador A7 de 64 bits. O iPhone 5S aparentemente não precisava dele¹, ou ao menos não agora.

E aqui vem o grande salto de fé da hipótese apresentada por ele (e que eu não compartilho, mas achei interessante pela reflexão que provoca): a atual geração de videogames passou de 256MB ou 512MB de RAM (PS3 e XBox 360) para 8GB de RAM (XBox One e PS4), o que exige 64 bits.

Que dispositivo a Apple poderia ter que roda iOS, poderia se beneficiar da nova API de controles de jogos do iOS 7, poderia se beneficiar dos novos sensores de movimentos nos dispositivos móveis com iOS, e poderia vir a ter de endereçar 8GB de RAM para se equiparar aos concorrentes?

Isso mesmo, uma nova geração do Apple TV que permita rodar jogos nativamente (e não como satélite de outro dispositivo, como na imagem acima, que é do modelo atual).

Um roadmap interessante

Eu compro a ideia dele? Não. Acho mesmo que seria legal a Apple lançar uma Apple TV que pudesse competir com os videogames diretamente no terreno deles, e não só como central multimídia, mas não consigo ver isso acontecendo, especialmente com uma etiqueta de preço correspondente a um brinquedo com 8GB de RAM.

Ao mesmo tempo, me parece um roadmap interessante o que conduza a dotar os dispositivos iOS da capacidade de trabalhar em conjunto como se fossem um Wii+Wiimotes disjuntos e com esteróides.

Mas 8GB de RAM em um dispositivo de massa, dedicado a entretenimento, lançado em 2013? Só se fosse pra durar um ciclo de 6 anos sem mudar especificações, como acontece com os videogames.

O CannyVision chega a encaixar um iWatch e uma TV da Apple na sua visão de futuro próximo, e nisso eu não embarco muito (não acho impossível, mas me surpreenderia bastante).

Se fosse para pensar na minha própria teoria maluca, eu imaginaria que o próximo passo seria os dispositivos iOS de 64 bits engolirem as aplicações atualmente realizadas pelos usuários finais em MacBooks, ao longo dos próximos ciclos de atualização.

Mas uma renovação do Apple TV com recursos inéditos ser anunciada ainda em 2013 não me parece nada impossível, e ela ser melhor aproveitada por quem tiver um iPhone 5S não me parece desprovido de sentido.

Assim como não me parece nada radical a ideia de novos MacBooks terem capacidades de entretenimento que se integrem aos iPhones e os expandam.

E também não me surpreenderia que os novos iPads tragam uma aplicação imediata para 64 bits no iOS que o usuário final perceba.

A conferir. E a refletir.