Melhorando o diálogo "Salvar como..." no Mac OS X

O diálogo "Salvar como..." usado como default no Mac OS X é uma daquelas aplicações de princípios de usabilidade de interface humana que frequentemente desagradam a usuários experientes e avançados, por esconder vários dos controles e opções a que se acostumaram ao longo de décadas de uso:

A telinha acima mostra o diálogo "Salvar como" (ou "Save as", porque o meu é em inglês) do Safari, um exemplo típico da categoria: nada de opção de criar uma nova pasta, um conjunto restritos de locais em que você pode gravar, tudo em um diálogo simples e engessado - mas que tem o mérito de não confundir o usuário inexperiente e que só grava coisas nos diretórios típicos do sistema.

Mas há um detalhe interessante e nada óbvio (até porque setas apontando para baixo ao lado de campos de preenchimento costumam ser interpretadas de outra forma), cujo uso é o sinal do usuário que já "pegou o jeito" do Mac OS X (e de outros desktops modernos que têm comportamento similar): aquela seta para baixo posicionada ao lado do campo do nome do arquivo expande a janela do diálogo de salvar, oferecendo as opções ausentes:

Ou seja: aquele botão discreto faz aparecer a opção de criar nova pasta, um navegador completo para diretórios e arquivos, as opções de visualização (ícones, lista detalhada...), e até uma busca do Spotlight. E pressionando o botão de seta para cima, o diálogo encolhe novamente.

Mudando o default

Em aplicativos bem comportados, a sua opção pelo diálogo completo fica memorizada e será sempre respeitada - você só precisa pressionar o botão na primeira vez.

Mas a necessidade de fazer a seleção por uma vez já é em si uma situação indesejada por quem sabe que vai preferir o diálogo completo em 100% das vezes.

Felizmente o Mac OS X previu a possibilidade de você confirmar que deseja o diálogo de Save As ampliado como default. Os duendes do laboratório subterrâneo de Steve Jobs não receberam permissão de incluir a opção nas preferências do sistema, mas ela continua à sua disposição com um comando simples no Terminal:

defaults write -g NSNavPanelExpandedStateForSaveMode -bool YES

Se algum dia você cansar de ter acesso pleno aos controles e quiser voltar a ter um diálogo restrito como default, basta repetir o comando acima, mas trocando o YES por NO.

WriteRoom por US$ 4,99 só hoje na Mac App Store

Quem escreve profissionalmente ou leva a sério o ato de escrever muitas vezes pode se beneficiar por um aplicativo que coloque o editor em tela cheia e remova todas as distrações - menus, formatações, ícones, outras janelas, etc.

Existem vários aplicativos para isso, mas o WriteRoom geralmente é a referência à qual os demais são comparados.

Mais do que um simples editor de textos, o WriteRoom é um ambiente em tela cheia para edição de textos. Quando em funcionamento, ele remove da tela todas as distrações ao alcance de um aplicativo do Mac: barras de menus, dock, wallpaper, decorações de janela, botões de maximizar, etc.

O visual retrô default é opcional!

O que sobra é o que você precisa para escrever: o texto e seu cursor. Há uma variedade de comandos de teclado que você pode aprender para extrair o máximo proveito do seu uso, mas vale lembrar também que ao deslocar o cursor do mouse para o alto da tela, o menu do aplicativo aparecerá e permitirá a interface comum.

Outra dica essencial para os profissionais das palavras é que deslocar o mouse para o canto inferior esquerdo da tela exibe a contagem de palavras e toques do texto que estiver aberto.

Eu comprei o WriteRoom no ano passado, também em um momento de promoção, e é a ele que recorro quando preciso escrever sem distrações.

Mas a promoção de hoje está ainda melhor que a que eu peguei no ano passado: por US$ 4,99 você leva o aplicativo na Mac App Store - po preço normal é US$ 24,99. Segundo a descrição, a oferta é válida só até 26 de fevereiro (sábado), portanto vale a pena conferir logo ;-)

Leitor pergunta: Comprar um Mac Mini vale a pena?

O leitor José Eduardo (jeacarvalho@...) pergunta:

Augusto, acompanho você no Br-Linux e no Efetividade há tempos. Boa notícia esse canto para o Mac. Estou querendo iniciar minha vida de mac "maníaco", mas preciso ir com calma ($$). A opção do Mac mini me atende no momento, mas tenho as seguintes dúvidas: (1) Teclado e Mouse: Funciona qualquer um? Andei lendo e não parece que o uso dos teclados / mouses para Windows são "diretos"... Se tiver que usar o par teclado / mouse bluetooth da Apple encarece e um iMac "inicial" vai ficando mais "próximo" - Lembrando que ainda tenho q comprar um monitor. Se tiver q usar o par Apple, a diferença (com monitor comprado) vai ficando próxima de 1000, o que "compensaria" o processador mais parrudo e mais memória do iMac... 2 - Monitor: Qualquer um via DVI, certo?

A questão é interessante, e quero começar contando que eu tenho uma história pessoal com o Mac Mini para compartilhar e que ajuda a responder a dúvida do José Eduardo: no final de 2009, movido pela intensa frustração com um PC que se recusou a funcionar num fim de semana em que eu precisava muito dele, peguei o Mac Mini que estava na sala e servia como central de entretenimento e coloquei-o como desktop no meu home office.

Era para ser uma solução rápida até poder consertar o outro PC na segunda-feira, mas em vista do resultado acabou ficando permanente: o Mac Mini (modelo 2009, a geração final antes dos atuais Mac Minis com o gabinete unibody) ficou como desktop por pouco mais de um ano, rodando valente tudo que eu precisei (até mesmo o Ubuntu!).

Hoje ele voltou a ser media center, e foi sucedido na minha escrivaninha por um iMac. Mas durante seu tempo de serviço como desktop, ele funcionou com o teclado, mouse e monitor que eu já tinha na mesa, e que antes estavam conectados ao PC anterior, sem problemas nem sustos.


Mac Mini, modelo pré-2010

Se o teclado e o mouse forem USB, vão funcionar sem problemas. Mas é interessante que o seu teclado tenha o layout ABNT (ou outro que seja padronizado) e inclua a tal "tecla Windows", que o Mac OS X automaticamente usará no lugar da essencial (para seus usuários) tecla ⌘ ("Command"). Talvez você tenha que investigar um pouco nas preferências do Mac (tanto em Teclado quanto em Internacional e Idioma) até a acentuação ficar do jeito que você está acostumado (não faltam tutoriais para isso, se precisar!), mas é provável que em poucos minutos o teclado passe a ser a ferramenta eficiente de sempre.

Com o mouse a situação é similar: ele funciona imediatamente mas "do jeito Mac". Tem um monte de opções para você ajustar, quanto ao funcionamento do segundo botão, velocidade de arrasto e clique, e mais - também tudo acessível pelas preferências do sistema.

Vale destacar, entretanto, que o teclado da Apple (mesmo a versão USB, com fio) tem suas comodidades - teclas de funções e de controle realmente úteis e funcionais, por exemplo, e o fato de funcionar como discreto um hub USB - e que o Magic Mouse e Magic Trackpad também têm funcionalidades touch interessantes. A ausência deles não prejudica a tua experiência com o Mac Mini, e os recursos extras talvez não justifiquem o preço salgadíssimo, mas é bom destacar que eles são mais do que belos designs em periféricos Bluetooth ;-)

Um monitor DVI funcionará com o adaptador que já vem na caixa dos Mac Minis atuais, mas se você já tiver um monitor VGA, pode comprar um adaptador para ele também - certamente é bem mais barato do que trocar de monitor só por causa disso. E nos Mac Minis atuais (unibody), uma porta HDMI também está presente.

 O que é que o Mac Mini tem

Para ficar completa a resposta, falta mencionar a geração atual (unibody) dos Mac Minis. Hoje temos aqui em casa um deles atuando como desktop (mas não é o meu), e eu de vez em quando o uso. As especificações são adequadas a um modelo mini, e não se comparam aos iMacs ou ao MacBook Pro, por exemplo: Core 2 Duo de 2.4GHz, 2GB de RAM, 320GB de disco, nVidia GeForce.

Hoje uso no home office um iMac, que dá um banho em processamento e I/O (fica evidente na hora de fazer um encoding de vídeo, por exemplo, ou de compilar alguma coisa, ou mesmo de virtualizar algum sistema operacional), mas o ano em que usei um Mac Mini no meu desktop foi de muita tranquilidade para realizar todas as minhas tarefas (inclusive as mencionadas acima, embora com menos desempenho). Para rodar o processador de texto, a planilha e o navegador, foi sempre um sucesso.

Segundo a Apple ele brilha no consumo de energia: 9W quando idle, 1,5W quando estiver suspenso. Esse modelo, que é o lançado no ano passado, tem fonte de alimentação dentro do gabinete, ao contrário dos anteriores, que tinham uma fonte tijolo no cabo de alimentação.

O drive de CD e DVD é do tipo ranhura, e o painel traseiro tem as portas usuais: Ethernet, Firewire, vídeo (2 saídas independentes: HDMI e mini display port, sendo que para esta segunda, que é de 2560x1600 pixels, vem um adaptador DVI incluso), 4 portas USB 2.0, leitor de cartões SD, áudio (line in e line out/headphone, ambos em formato analógico com conectores comuns, mas também suportando cabo mini TOSLINK para áudio digital - e a porta HDMI também tem saída de áudio, claro).

Ele chega pre-instalado (Mac OS X e iLife), então é só conectar aos teus periféricos, ligar na tomada, conectar à sua rede WiFi (ou com cabo Ethernet) e usar!

Melhorando o iTunes, parte 2: Scripts inteligentes

Minha opinião sobre o iTunes não é das melhores: em meio a visuais e interações primorosos da maioria dos demais programas que são estrelas do "universo Mac" feitos pela Apple, ele se destaca por uma interface bizantina e uma tendência a misturar funcionalidades que mereceriam aplicativos específicos: coleção de coleção de áudio e vídeo, gerenciamento de conexão com iPhones e seus congêneres, rádios on-line, compra de aplicativos, transferências e sincronizações de arquivos, etc.

Isso não equivale a dizer que o iTunes é ruim - pelo contrário, ele cumpre o seu papel até direitinho. Mas a qualidade e a evolução dos seus congêneres nos acostumam a esperar bem mais, e as atualizações recentes oferecidas pela Apple parecem ter se concentrado em outras áreas deste aplicativo.

Embora novidades em aplicativos como Mail e iCal estejam mencionadas explicitamente na página apresentando as futuras novidades do Mac OS X Lion, o iTunes não está presente por lá, o que não remove totalmente minha expectativa de que a chegada do Lion finalmente traga a interface do iTunes para o século XXI, mas ao mesmo tempo não permite a certeza de que isso ocorrerá.

Enquanto isso, temos os scripts!

Quando migrei para o iTunes minha coleção de CDs já convertidos para o formato digital, percebi que algumas funcionalidades essenciais não estavam de acordo com minhas expectativas, incluindo coisas básicas como:

  • uma busca de capas de discos que realmente funcione do jeito que o usuário espere,
  • a possibilidade de preencher de maneira inteligente os metadados (nome do disco, artista, títulos das músicas, etc.) a partir dos nomes dos arquivos, ou de um texto que esteja disponível,
  • um recurso para localizar rapidamente todos os discos ou músicas que estão sem capa ou metadados cadastrados,

entre muitas outras.

Não me entenda mal: existe uma infinidade de programas, gratuitos e pagos, que oferecem complementos ao iTunes para fazer as operações acima. E alguns deles até mesmo funcionam!

Mas essas funcionalidades (preencher campos a partir de dados textuais existentes, instruir o navegador a abrir uma busca de imagens a partir do nome de um artista e de um disco, etc.) são tão simples que, simultaneamente, deveriam já estar presentes nativamente no iTunes e não parecem justificar um aplicativo dedicado a elas.

E é isso que explica a popularidade contínua da coleção de quase 500 scripts do repositório "Doug's AppleScripts for iTunes", que acrescentam funcionalidades ausentes como as mencionadas, e muitas outras, ao próprio iTunes.

Entre os recursos mais populares oferecidos por estes scripts, podemos mencionar:

  • Remoção automática de músicas que ainda constam na sua biblioteca embora o arquivo de áudio original tenha sido apagado
  • Encontrar capas de discos com o Google Reader
  • Encontrar e marcar músicas duplicadas
  • Importar arquivos de áudio do iPod
  • Encontrar e marcar músicas sem imagem da capa do disco
  • Tocar só os segundos iniciais de cada música de uma playlist
  • Remover os X caracteres iniciais ou finais dos títulos das músicas selecionadas

E muitas outras operações cuja utilidade é frequente, mas sua demanda pode não ter sido percebida.

I ♥ scripts

Scripts são a maneira de lidar com tarefas cuja execução manual seria trabalhosa, demorada ou repetitiva. Felizmente boa parte dos aplicativos do Mac OS X têm suporte à extensibilidade via AppleScripts, e os autores dos scripts para iTunes (muitos dos quais estão licenciados como código aberto) tiram bom proveito disso.

A instalação dos scripts para o iTunes não costuma ser complicada, e cada um deles vem acompanhado de instruções de instalação (que em geral se resumem a descompactar e arrastar para a pasta [username]/Library/iTunes/Scripts/, criando-a se necessário) na própria página de downloads do site dos scripts.

Depois de instalar um script, ele ficará disponível no menu de scripts do iTunes, como você pode ver na screenshot ali de cima. É só usar, e torcer para que essas funcionalidades tão óbvias um dia cheguem ao programa ;-)

Leia também: TunesArt: o complemento ideal para o iTunes.

Rudix: pacotes GNU e para UNIX adicionais para o Mac

Por Rudá Moura*

O Rudix procura estender as funcionalidades presentes no ambiente UNIX do Mac OS X, através de um conjunto de softwares pré-compilados e prontos para usar.

Estes softwares estão disponíveis no formato package (.pkg), que é uma das formas de instalação recomendadas pela Apple.

Quem veio do Ubuntu ou Red Hat pode entender o Rudix como se fosse uma espécie de “distribuição Linux” para Mac, e quem veio de algum BSD certamente verá o Rudix como algo semelhante às ferramentas de buildsystem e ports do FreeBSD ou OpenBSD.

Mas para o usuário final, pouco importa que seja um buildsystem ou uma distribuição, pois o objetivo primordial do Rudix é facilitar a instalação de softwares UNIX para Mac, de maneira rápida, segura e sempre “do jeito Mac”.

Estes são alguns dos programas que podem ser instalados através do Rudix:

  • Midnight Commander;
  • GNU Wget (wget), GNU sed, GNU findutils;
  • Ferramentas de desenvolvimento como Mercurial, Bazaar e Git;
  • Serviços como Memcached, Varnish e NGINX;
  • Recentemente incorporados: Node.js, Terminal multiplexor (tmux).

História

A história do Rudix começa no ano de 2005 em um iBook G3 e o meu know-how anterior com desenvolvimento em Linux.

Procurei por soluções que me entregassem o GNU Wget compilado, mas não gostei do que achei na época: Fink e Darwin Ports - atual Mac Ports, pois mantinham as complicações de empacotamento herdadas do Linux.

Mesmo com opções mais amigáveis como o Homebrew, o Rudix continua mais vibrante e original que os outros. O Rudix ganhou maturidade na versão 2010 e agora desponta para mais uma versão.

O Diferencial

E o que diferencia o Rudix dos outros sistemas? O Rudix procura manter fidelidade aos padrões de comportamento que o Mac OS X exige. Em primeiro lugar, os softwares são instalados como pacotes independentes e auto-suficientes. Isso quer dizer que não existem dependências de outras bibliotecas, a não ser as nativas do próprio Mac.

Importante: o Rudix nunca substitui os componentes originais do Mac e não “contamina” a instalação original. Procuro manter a instalação dos pacotes dentro do consagrado diretório /usr/local/ em vez de inventar uma opção maluca, como /opt/rudix/.

Por manter o jeito “Mac OS X friendly” de ser, acredito que o Rudix tem um espaço garantido para um público exigente mas ao mesmo tempo, que não gosta de perder muito tempo pensando em dependências e compilações.

Rudix 2011

A nova versão do Rudix encontra-se em fase de desenvolvimento e caminha para um estado alfa de desenvolvimento. O projeto está hospedado no site de código do Google.

A maioria dos pacotes do Rudix já foram atualizados para a versão 2011. O gerenciador de pacotes está em fase de estabilização, pois recentemente adquiriu algumas características novas, como instalação de software através da internet.

O site do projeto ainda necessita ser atualizado para as versões novas de pacote, pois ainda encontra-se na versão 2010, que confesso que ficou um pouco “fora de moda”.

Gerenciando pacotes

A maneira mais fácil de começar a usar o Rudix 2011 é instalar primeiro o gerenciador de pacotes Rudix, pois através dele fica mais fácil ir acrescentando os softwares conforme for sentindo necessidade.

A última versão do gerenciador de pacotes está disponível na área de downloads do Rudix. No momento que escrevo este artigo, a versão do gerenciador é a 11.2 (Leia-se fevereiro de 2011).

Uma maneira rápida de fazer o “bootstrap” do Rudix na linha de comando é através das seguintes linhas:

curl -O http://rudix.googlecode.com/hg/Ports/rudix/rudix.py
sudo python rudix.py install rudix

Ou em uma linha só

curl http://rudix.googlecode.com/hg/Ports/rudix/rudix.py | sudo python - install rudix

A partir desse ponto, fica fácil instalar novos programas, por exemplo, para instalar o GNU Wget, eu faço:

sudo rudix install wget

Simples, não é?


Instalação direta de pacotes

Mas se tudo o que você precisa do Rudix for um pequeno conjunto de pacotes (ou o próprio GNU Wget), então nem perca tempo com os passos acima.

Vá até o mesmo endereço de download, baixe só os pacotes desejados diretamente e instale, sem complicação alguma, seguindo apenas o roteiro de instalação de qualquer software para Mac, como na imagem acima.

O Inferno das Dependências (NOT)

Os mais atentos podem querer me perguntar agora: e como resolver as dependências?

A resposta é: não se resolve ou melhor, não há dependências a resolver, pois tudo que é dependência externa e que não é nativo do Mac OS X é resolvido através de compilação estática.

O pacote do GNU Wget é um bom exemplo, pois durante a compilação ele necessita do GNU GetText, que é compilado estaticamente e inserido no GNU Wget para distribuição.

Não pense que o pacote do wget vai ficar enorme! Não é que toda a biblioteca vai fazer parte do pacote e deixar o software mais gordo, apenas o que o wget necessita do gettext é incorporado. O resultado final é um bom equilíbrio entre o tamanho do programa e a comodidade de evitar dependências!

Mais informações

Para mais informações, visite rudix.org e code.google.com/p/rudix.

O Rudix está no Facebook e com o twitter @rudix4mac.

Sou o autor original do Rudix, e o meu twitter é @ruda_moura. Desde o final de 2010, o Rudix conta também com a participação e a contribuição de Leonardo Santagada (@santagada).

* O autor convidado Rudá Moura é entusiasta da linguagem Python, desenvolvedor UNIX e aficcionado por Macs.
 

Produtividade: GTD no Mac e no iPhone com o Things

O conceito central do método GTD de produtividade pessoal é tirar da sua cabeça a necessidade de lembrar e priorizar todas as suas tarefas, obrigações, projetos, referências e contextos, substituindo essa necessidade constante de lembrar e priorizar por uma base de armazenamento mais confiável (pastas, envelopes, listas ou um software) e um processo que garanta a consulta a essa base sempre que chega a hora de escolher as próximas tarefas, garantindo também que os prazos sejam atendidos.

Esvaziando a caixa de entrada

Para isso, a base do método é composta por ideias simples e fáceis de colocar em prática, inclusive por não dependerem de nenhum suporte tecnológico específico - é perfeitamente possível adotar o GTD com base em papel, caneta e algumas pastas ou envelopes, por exemplo.

Entra em cena o Things para Mac e iPhone

Durante muito tempo eu mantive a minha gestão de produtividade pessoal funcionando em GTD com base em uma caderneta de bolso e um arquivo de pastas suspensas.

Mas recentemente tive conhecimento de um software que permite implementar parte considerável do método usando o iPhone e (opcionalmente) o Mac, e pela primeira vez desde que abandonei a plataforma Palm, há alguns anos, estou me adaptando bem a manter a minha lista de tarefas e pendências em uma base digital e, ao menos parcialmente, móvel.

Tela "Próximos" no Things para Mac

O aplicativo em questão é o Things, que tem versão para Mac (disponível na Mac App Store) e apps correspondentes para iPhone e para iPad, que podem ser usadas isoladamente ou sincronizadas (via Wi-Fi) com o Things para Mac.

Antes de prosseguir, é bom deixar algo muito claro:

  • o Things (que recentemente foi destaque entre as ferramentas de gerenciamento de tarefas preferidas pelos leitores do Efetividade.net) não é gratuito (paguei cerca de R$ 17 pela versão para o iPhone e R$ 85 pela de Mac), e há muitas alternativas gratuitas para implementar GTD nestas plataformas, começando pelo próprio iCal que se não é grátis, ao menos já vem com o Mac. Mas estou plenamente satisfeito com o retorno pelo dinheiro que gastei, e a maneira de operar que o Things me proporciona é algo que eu jamais alcancei com as alternativas gratuitas à disposição, embora recomende que você as procure experimente também.

"Hoje" e "Próximos"

O Things não é uma agenda no sentido comum do termo, em que você define compromissos, datas e horários. O que ele gerencia são tarefas (ou pendências, "to-do items"): as coisas que você precisa fazer. Muitas delas tem datas e prazos, mas outras têm a questão temporal em aberto, e algumas são especificamente classificadas para o grupo "Algum dia/Talvez".

O núcleo do uso diário do Things é a tela "Today" ("Hoje"), na qual aparecem as tarefas que tem o dia de hoje como prazo, as tarefas cujo prazo são os próximos dias mas você definiu que deveriam ser exibidas com alguns dias de antecedência, e as tarefas sem prazo que você tiver escolhido fazer hoje, também.

Tela "Today" no Things for Mac

Essa escolha entre as tarefas sem prazo acontece na tela "Next" ("Próximos"), que mostra o que você tem cadastrado como pendente em cada uma das suas áreas de atividade, projetos e contextos, permitindo selecionar (livremente ou com base em tags que você mesmo define, como "Urgente" ou "Em casa") qual a fatia das suas pendências que você pretende abocanhar a cada dia.

Quase todo método de produtividade pessoal (incluindo o GTD) dá destaque ao efeito motivador produzido por ver a lista de tarefas pendentes de um dia ir sendo riscada até o fim, e a consequência deste efeito: a atenção maior dada à definição das pendências dos próximos dias, quando nossa mente começa a associar o sucesso de cada dia ao completamento delas.

Tela "Today" no iPhone

E é assim que vem funcionando comigo: a sensação positiva de completar a lista de cada dia conduz a caprichar cada vez mais no detalhamento das próximas tarefas, conforme fica mais evidente na prática a óbvia conclusão de que uma definição apressada (como "pintar o quarto do bebê") é bem mais difícil de cumprir do que uma série de definições de tarefas mais simples ("escolher a cor", "comprar a tinta e materiais", "remover a mobília", "raspar e lixar", "primeira demão", etc.) que possam ir sendo completadas em sequência e atendam ao objetivo.

A essencial CAPTURA

De todos os passos do processo básico do método GTD, a captura é o mais crítico para o sucesso inicial, pois é por ela que você vai chegar a ter uma lista para acompanhamento que realmente reflita de forma tão completa quanto possível o seu conjunto de tarefas e pendências, ou vai apenas formar uma lista parcial que não permitirá tirar da cabeça o overhead de lembrar e priorizar parte das tarefas ou, o que seria ainda pior, não vai formar uma lista na qual possa confiar, e assim jamais vai chegar a experimentar as vantagens do método GTD.

Depois que você tem uma lista inicial bem montada, as revisões (geralmente na tela "Next") e a execução ("Today") passam a ser as etapas cruciais, cujo sucesso alimenta a continuidade da captura com qualidade crescente.

Captura com preenchimento a partir de uma mensagem do GMail

Para o sucesso da captura inicial, que em muitas ferramentas é um processo chato de transcrição do que está nas suas pilhas de papeis, e-mails e na sua cabeça, o Things para o Mac tem uma ferramenta que é de grande ajuda: um atalho global de teclado (por default Control + Option + Espaço) que cria uma nova tarefa contendo link para o e-mail, arquivo ou página web que você tem aberto no momento, e colocando como conteúdo o texto que estiver selecionado na tela: basta dar um título e, opcionalmente, associar tags, projeto, prazo e área de atuação, e pronto: nova tarefa criada, e você pode fechar o documento ou e-mail em que ela residia, pois um link para eles estará presente no Things para quando você for cumprir a tarefa.

Quando comecei a usar o Things, minha captura inicial durou cerca de 25 minutos, incluindo a transcrição do que já estava em lista de papel, e a criação, pelo processo acima, de tarefas correspondentes ao que estava em um conjunto de e-mails não-lidos - e gerou cerca de 40 itens iniciais de tarefas, dos quais 15 tinham prazo definido.

As tarefas da captura inicial incluem algumas que são automaticamente recorrentes: emitir faturas e pagar as poucas despesas mensais que não posso colocar em débito automático. O Things tem suporte a automatizar esse tipo de definição para eventos que se repetem de forma diária, semanal, mensal e anual. Cada um deles pode ter sua data de prazo, e também o número de dias de antecedência com que deve ser tornado visível na tela "Today".

Destaques na interface: tags, projetos, visões

Os recursos como abreviações de tags, atribuição a áreas e projetos via arrastar e soltar na barra lateral, e possibilidade de marcar delegação a outros membros de equipe pelo mesmo mecanismo (e com integração à lista de contatos do iPhone e Mac) tornam a captura muito mais prática do que a realizada em ferramentas de referência ou uso geral, como o Evernote, na minha opinião.

Revisão e execução

Pouco ou nada adianta ter uma lista de pendências se ela não for revisada com a periodicidade necessária, e se você não se encarregar de realizar as tarefas que registrou - afinal, como já dizia o imortal prefeito Odorico Paraguaçu, precisamos menos de iniciativas e mais de acabativas!

Assim, quando o planejamento dá lugar ao "fazejamento", o Things também brilha, a começar por duas ideias geniais: seu ícone (na Dock do Mac, ou na tela início do iPhone ou iPad) sempre mostra o número de tarefas pendentes na sua tela Today, e as delegações para membros da equipe funcionam com integração aos contatos do seu Mac ou iPhone.

Ícone com a contagem de pendências de hoje no Mac

Já mencionei como funcionam as telas "Today" e "Next", mas vale destacar que o Things se integra também à busca do Mac (Spotlight), com suporte ao Quick Look e a scripts que automatizam o processamento ou mesmo acrescentem integração a outros sistemas, no caso de usuários mais empreendedores.

O bom uso de tags (como "Férias", "Final de ano", "Urgente" ou "Fim de semana") ajuda a fazer as revisões periódicas - agrupar todas as tarefas de cada uma delas está sempre a um toque na tela Next do Things para Mac, ou a 2 toques no Things para iPhone.

Tags, Contextos, áreas de atuação e projetos

Boa parte do sucesso do método GTD se relaciona ao esforço em reconhecer as diferentes situações em que você encaixa as suas tarefas e pendências.

Para ficar em um exemplo simples, há tarefas para fazer em casa, no trabalho ou na rua; elas podem ser por telefone, por e-mail ou pessoalmente; no fim de semana, nas férias, ou em viagem.

Elas também podem ser vistas como curtas ou demoradas; fáceis, médias ou difíceis; urgentes, normais ou sem urgência; para fazer sozinho ou dependendo de outras pessoas, e assim por diante.

As tarefas também podem ser associadas às suas áreas de atuação pessoais - por exemplo, eu tenho atividades que desempenho profissionalmente, outras são relacionadas ao BR-Mac, ao Efetividade ou ao BR-Linux.

Dentro das áreas de atuação, ainda é possível que suas tarefas sejam divididas por projetos - por exemplo, minhas atividades profissionais atualmente podem ser ordinárias ou estar relacionadas a determinadas situações em andamento, como o novo site Intranet que está em estudo, a fase final de um evento iniciado no ano passado ou o planejamento de um evento estratégico que ocorrerá no próximo ano.

Algumas das minhas tags e suas abreviações

O Things me permite fazer todas essas classificações para as minhas tarefas. Na verdade ele permite muito mais, pois seu sistema de tags é facilmente expansível, permitindo criar e agrupar contextos como você preferir: por local, situação, equipe, urgência, complexidade, cliente ou o que você desejar - e aí usar cada um destes agrupamentos (simultaneamente ou não) para descrever suas tarefas.

Quanto às áreas de atuação e projetos, o Things vai além das tags, permitindo que você os cadastre e defina relacionamentos entre eles, e mantendo-os na barra lateral do programa (no Mac) para arrastar rapidamente as tarefas para a área ou projeto onde melhor couberem.

Sincronizando

É possível sincronizar o Things do Mac com o iCal e com um número ilimitado de iPhones e iPads rodando a app do Things. A sincronização do Mac com o iPhone ou iPad ocorre via Wi-Fi, sempre que a app correspondente é iniciada e ambos (o Mac e o iPad ou o iPhone) estão na mesma rede WiFi.

No momento não há suporte a sincronizar diretamente o Things do iPad com o do iPhone, nem a sincronizar as cópias do Things instalados em 2 Macs diferentes. O interesse nesses tipos de sincronização é evidente, e a própria documentação presente no site oficial apresenta várias gambiarras que os usuários encontraram e usam para sincronizar via Dropbox, MobileMe e outras conexões, com sucesso - desde que não haja uso simultâneo, caso em que a integridade é perdida ou dá erro.

Minha configuração de sincronização

A CulturedCode, que desenvolve o Things, reconhece a importância destes sincronismos, e avisa que está desenvolvendo uma nova geração do produto que permitirá o sincronismo via nuvem para todas as plataformas suportadas.

Por enquanto, recomendo apenas para quem usa em modo independente (até mesmo a versão do iPhone, com interface naturalmente mais restrita, pode ser usada deste modo) ou sincronizando o celular e/ou o tablet com um único Mac.

Como eu uso

No meu caso, eu uso o Things para Mac no computador do home office, e sincronizo com o Things para iPhone pelo menos uma vez por dia, para ir marcando nele as tarefas completadas quando estou fora do escritório, ou ir capturando (com anotações resumidas, para completar depois no Mac) as tarefas que surgem ao longo dos deslocamentos.

No iPhone dá de atribuir tags, projetos e áreas de atuação também, assim como definir tarefas recorrentes, mas embora a interface seja aceitável (considerando as limitações de uma tela pequena e comandos touch), raramente tenho pressa para fazer essas atribuições - dá perfeitamente para esperar e fazê-las de forma bem mais amigável no Mac, arrastando a tarefa para os locais apropriados.

Boa parte do gerenciamento das tarefas eu faço no Mac, onde também acontecem a maioria das capturas - enquanto eu digito este post para vocês, já apertei 3 vezes a combinação Option + Espaço para registrar no Things tarefas ou pendências que surgiram (depois de registrar ele me devolve automaticamente para o aplicativo que estava ativo quando pressionei).

Things para iPad

Eu adquiri também o Things para iPad, e de vez em quando até o sincronizo com o do Mac para alguma necessidade específica em que o levarei comigo para alguma atividade, mas na minha rotina faz pouco sentido usá-lo, já que o iPhone está sempre comigo. Ele tem um misto da interface do Mac com a do iPhone, e acredito que seria uma boa opção para quem porta sempre o iPad consigo - tanto para uso isolado como sincronizado com o Mac.

O livro que define o GTD é leitura mais do que recomendada a quem gostou das possibilidades oferecidas pelo Things e quer saber mais, pois detalha de maneira fácil de compreender e praticar cada um dos passos que conduzem ao sucesso nas tarefas resumidas acima.

Este post que você está lendo já foi uma tarefa aberta no Things...

E este post aqui já foi uma pendência no Things também. Agora por favor me dêem licença, que eu vou ali marcá-la como completada - e fiquem à vontade para comentar sobre as suas alternativas preferidas para gerenciamento de tarefas e pendências no Mac, iPad e iPhone!

Mais acessados:

Artigos recentes: